Semeadores: Capítulo 2 – Sem Perder o Compasso

Arte: Dyego Santos

Na Bela Vista, em 1930, um grupo de foliões fundou o Vae-Vae. Sr. Livinho e Dona Iracema comandava a turma que, para irritar o outro cordão do bairro, colocaram as mesmas cores preto e branco. Deu frutos, foi um dos maiores vencedores como cordão e é que tem mais títulos como escola de samba. Em 1971, trocou o “e” pelo “i”, e ficou Vai-Vai, o orgulho da Saracura – um riacho, que agora encoberto, mas que banhava a baixada da Bela Vista. A família Penteado, familia Olímpia, família Amaral do Sebastião Eduardo Amaral, o Pé Rachado, deram suas vidas a esta entidade. Pé Rachado, ousado, deixou a escola do Bixiga nas mãos do amigo Chicle, e foi para a Vila Mariana fundar a Barroca Zona Sul. Ele dizia: “aqui não é uma escola e sim uma ‘faculdade do samba’, assim em dois anos de vida, ela estava entre as grandes do Carnaval, e hoje é conhecida no Brasil como a verde e rosa paulistana”.

Outra verde e rosa famosa, a Morro da Casa Verde foi criada no início dos anos 60, por Zezinho do Banjo. Escola de família como muitas aqui em Sampa, o grande mentor deixou o legado para Laurentina Nazareth, sua filha, que de passista foi porta-bandeira, e presidiu a escola por décadas, passando a poucos anos esta incumbência para seu filho mais novo, o Emerson de Campos, que com seus primos e irmãos estão vivenciando uma nova fase do legado do Zezinho do Banjo.

Silval Rosa, um semeador que não pode ficar fora desta crônica, um dos diretores do Clube Vinte e Oito, cordão, fundou no bairro do Cambuci, o Império, que por mais de uma década revelou muitos sambistas e um casal de mestre-sala e porta-bandeira que fez história: Nivaldo e Glória. Impecáveis.

Nos anos 50, nascia, em Santa Isabel, na Zona Leste, a azul e branco, que tem no seu logo o que chama os orixás. Acadêmicos do Tatuapé, de Osvaldo Vilaça, o sambista Mala, que trouxe o conhecimento de amigos de Santos e fez a escola forte nos anos 50 e 70, da herança de Mala, está aí hoje com dois títulos no especial. O Acadêmicos teve a liderança de Roberto Munhoz, hoje comandada por Erivelto, Coelho e Eduardo Santos tendo na retaguarda uma rapaziada de ponta.

Antes da chegada da Barroca na Vila Mariana, a Rua Padre Machado fervilhava nos anos 60 com a Brinco de Ouro, escola comandada por Nico do Trombone, a preta e amarela subia o morro até a Domingos de Moraes, e de bonde ia para o centro mostrar a força do samba da Zona Sul.

Assim fluíram os anos 50 e 60. Os clubes de bailes durante o ano, chegava no Carnaval, desfilavam como cordões e escolas. Não havia ajuda dos poderes públicos, então, cada um se arrumava como podia, buscando recursos com os lojistas do bairro, cada qual responsável pelo gasto de sua fantasia. A entidade comprava os instrumentos e fazia os carros alegóricos, aliás, enfeitavam os carros que, muitas vezes, era cedido por empréstimo para enriquecer o desfile. Os concursos eram organizados por emissoras de rádio e clube de lojistas. Então, as entidades desfilavam em vários lugares e em cada que venciam, valia um título. A festa era romântica e os dirigentes muito devotados colocavam seus ganhos pessoais para ver sua entidade bonita nos dias de momo.

Os cordões, além dos instrumentos de percúrsão, tinha os de sopro, a porta-estandarte levava o símbolo da entidade e os componentes eram formados por nomes da corte, como rei, rainha, príncipe, princesa, marquês, marquesa, duque, duquesa, pajens, damas da corte e cavalheiros da corte. As escolas, além dos personagens do enredo, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, a porta-estandarte e baliza e instrumento de sopro, como nos cordões.

Essa era do romantismo do samba paulistano, que durou até 1967.

Final da segunda parte.

Texto: Ednei Mariano

Arte: Dyego Santos

Maio 2022

Deixe seu Comentário
Artigo de

Redação Sampa