Sidnei França, carnavalesco da Águia de Ouro, atual campeã do Carnaval de São Paulo, revela suas paixões e entusiasmo com o Carnaval

Foto: Acervo pessoal

Nascido e criado na Casa Verde, desde criança era levado pelos tios para Rua Zilda onde prestigiava a escola de Samba Unidos do Peruche, que na época mantinha a tradição de desfilar para o seu bairro, sua raiz. Porém, sua mãe e seus primos, na década de 70 foram levados para a Mocidade Alegre e seus primeiros registros com o Carnaval e com o Samba foi ainda bem pequeno. Com apenas 2 anos de idade passou a frequentar a quadra da Mocidade, e foi juntamente com Sr. Waldir, que hoje é integrante da velha guarda e seu padrinho no samba e na vida que criou suas raízes. 

Tem orgulho de ter a Mocidade Alegre como seu berço sambístico e ter vivenciado com amor e responsabilidade várias etapas até se tornar o carnavalesco que conhecemos hoje. Sua história no Carnaval se dá na Mocidade Alegre, começando desde muito cedo na ala das crianças, passando pelas alas de componentes e folião por anos, até compor a diretoria. 

A convite da Solange Bichara, presidente da escola, Sidnei França se tornou diretor cultural e teve a oportunidade de desenvolver os enredos de 2005 a 2008, preparando a sinopse, as defesas, agregando seu conhecimento em toda parte de pesquisa e conceitual. Em 2009 se tornou carnavalesco, fazendo disso sua profissão. Como carnavalesco teve o prazer de experenciar títulos de campeão nos anos de 2009, 2012, 2013, 2014 com a Mocidade Alegre. 

Sua maior motivação enquanto carnavalesco vem da possibilidade e da oportunidade que tem a cada ano de envolver toda uma comunidade num sonho, numa fantasia, no universo do lúdico, trazendo uma poética consistente para que essa comunidade assimile, acredite, se emocione e traga vida a temática proposta. Sua contribuição diária com o Carnaval, está na sua afinidade e no seu talento de artista, criador, com a possibilidade de a cada dia renovar a esperança de uma comunidade.

Uma de suas dificuldades do fazer do Carnaval é conciliar as necessidades de uma escola de samba com a vaidade do ser humano. Isso se estende não só ao sambista, mas também nos lugares onde o contingente de pessoas atuando juntos é maior, fazendo com que as disputas, os egos, a vaidade se aflorem. 

Aprendeu ao longo de sua experiencia a ter uma presença muito firme do que quer, do que pensa e do que delega, para que as pessoas se realizem dentro da escola de samba, mas sempre enaltecendo e mostrando a importância de que tudo gira em torno do “Pavilhão”, símbolo maior dentro de uma entidade. 

Muitas das pessoas que compõe uma escola são voluntárias e o desafio está em fazer com que elas entendam que suas preferências pessoais precisam estar em segundo plano para que a magia possa acontecer na avenida.

O sentimento de ser Campeão do Carnaval 2020 junto com a comunidade da Águias de Ouro, com enredo O poder do Saber – Se Saber é Poder… Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer é um dos momentos mais emblemáticas de sua trajetória, pois foi o primeiro título fora da escola que o formou. Depois de seis anos de escola sentiu o sabor da vitória, de ver sua dedicação, empenho e amor pelo que faz serem coroados para o primeiro título de uma escola no grupo especial. Saber que uma escola sonhava com seu primeiro título e foi nas mãos de Sidnei que eles conseguiram consagrar esse momento o deixa honroso e cheio de orgulho. 

Uma de suas revelações é que se não fosse carnavalesco, estaria como ritmista da bateria, pela sua identificação com a musicalidade e rítmica provocada pela bateria de uma escola de samba, sentindo a pulsação da escola na pista, trazendo toda emoção que uma bateria desperta ao pisar na avenida.  Também se realiza sendo diretor cultural, pela sua afinidade com História, com memórias, acervo, trabalhando em prol da manutenção dos saberes, das tradições e dos costumes das escolas de samba, fazendo isso com maestria e comprometimento. 

Como inspiração tem o carnavalesco Joãosinho Trinta, uma figura impar na produção visual nos desfiles das escolas de samba, com uma apuração estética que não passa só pelo uso do material, mas sim o uso desse material atrelado a linguagem poética, tendo a propriedade de saber aonde aplicar determinados materiais para que dê o melhor efeito.

Acredita que o Carnaval que é desenvolvido hoje é diretamente ligado a concepção de espetáculo desenvolvido por Joãosinho Trinta, além das propostas de enredos lúdicos, que exercitam a capacidade de imaginação, tirando a narrativa do Carnaval de um âmbito histórico formal, como era de costume, para trazer essa oferta de enredos e temáticas que trazem a intepretação alternativa da realidade, fazendo esse mergulho na fantasia. 

Outra referência no Carnaval é Renato Laje, que com sua estética limpa, de vanguarda, clean, tecnológica, de acabamentos muito apurados, o inspiram a organizar um desfile esteticamente agradável aos olhos e com orgulho Sidnei se inspira em consumir e absorver aprendizados dessa fonte.

Um enredo inesquecível que marcou a sua história foi na escola de samba Mocidade Alegre no ano de 2012 – “Ojuobá – No céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No coração, Um Obá Muito Amado!”, o primeiro de um tricampeonato pela escola, considerando ser um enredo especial por utilizar-se da obra “Tendas do Milagres”, de Jorge Amado, justamente no ano do centenário do escritor, celebrando e homenageando este ícone da literatura. 

Para 2022, Sidnei traz junto a escola de samba Águias de Ouro, o enredo de 2021 – “Afoxé de Oxalá – No ‘Cortejo de Babá’, Um Canto de Luz em Tempo de Trevas”, que foi trabalhado nesses últimos 2 anos, sendo o primeiro carnaval da escola com uma temática africana e especialmente exaltando um Orixá.

 Com bastante empenho pela busca de um bicampeonato, com um samba muito emotivo, que vem sendo cantado com muita força e paixão pela comunidade, eles aguardam abril para passar pela passarela do samba com alegria e emoção.  

Que o grande dia chegue e vocês possam com entusiasmo e amor preencher a avenida de felicidade! 

Texto: Mariana Mello

Deixe seu Comentário
Artigo de

Redação Sampa