O velho e o tempo

Arte: Dyego Santos

Sentado confortavelmente em um banco na espaçosa e arborizada praça, estava ele, Sebastião André, pleno aos seus 80 anos, passava suavemente as mãos calejadas de quem muito produziu em seus cabelos grisalhos, aqueles olhos firmes que muitas cenas virá, apreciava o movimento de idas e vindas do transeuntes.

Senta-se a seu lado uma jovem, bem vestida, carregada na maquiagem, começou a falar com Sebastião como se já conhecia há tempos. Discorreu sobre as oportunidades que, segundo ela, lhe foram tirada na carreira de porta-bandeira. Narrou que era perseguida, invejada por sua grande capacidade de dança, disse também que não levava desaforos para casa, que se alguém lhe contrariasse teria o troco rápido se não fosse no ato, acabava com as oponentes nas redes sociais.

O sábio ouviu atentamente os autos elogios e as lamúrias da bela dama, e ao final lhe perguntou, o que ela tinha feito para mudar esta situação, e afirmou que se ela fizesse um exame de consciência, descobriria que ela era a causadora de todo este infortúnio, a moça o olhou com os olhos, chispando de ódio e rapidamente saiu do local.

Sebastião André, balbuciou uma oração baixinho e sereno continuou a contemplar o cenário em sua volta. Viu crianças  andando de skate, outras brincando de pega-pega sob os olhares atentos de pais ou avós e se encantou com casais de namorados a se acariciarem. Assim a tarde foi passando.

Em um outro momento, sentou um homem já de meia idade, mas cheio de vigor. Estava com uma camiseta com bela estampa, significando que pertencia a uma entidade carnavalesca, logo se identificou como presidente daquela escola de samba e já foi desfiando um rosário de atividades que exercia dentro de sua agremiação. Se colocou um excelente administrador, todos tinham um contrato de trabalho, disse que era um presidente que exigia muitos de seus comandados, que não tolerava falhas, por isso a escola dele era uma das maiores da cidade. Arrogante, continuou em grandes bravatas, até que se levantou, e sem se despedir, já que Sebastião apenas escutava sem pronunciar uma frase. Percebendo isso, ele saiu com cara de contrariado, tão apressado que largou uma pasta que com o vento caiu no chão e se espalhou a papelada. Rapidamente se levantou e apanhou um por um, não teve como não perceber que eram comunicação judicial sobre falta de pagamento a prestadores de serviços, aí falou para si mesmo: “tanta arrogância e não paga seus prestadores”.

A noite entrou, apareceram as estrelas, vibrou de alegria pela natureza viva e o poder de contemplar. Levantou do banco e se encaminhou para sua residência logo ali pertinho daquele oásis na maior metrópole do país.

No trajeto falou de si mesmo: “Cada um de nós somos donos do nosso próprio destino”. O semear pode ser facultativo, mas a colheita será obrigatória.

Feliz 2022!

*Este conto é uma homenagem a este grande sambista que sabe nos escutar e aconselhar. O Embaixador do Samba  Sebastião Andre, de São Bernardo do Campo- Sp

Texto: Ednei Mariano

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Redação Sampa