Atual campeão do Grupo Especial, Sidnei França conta sua trajetória no mundo do samba

Cria da Mocidade Alegre, o carnavalesco já coleciona 5 títulos no Carnaval de São Paulo

Sidnei França, atual carnavalesco da Águia de Ouro. Foto: Felipe Araujo/ Liga SP

A trajetória de Sidnei França como carnavalesco já se iniciou de forma vitoriosa. Em 2009, Sidnei assinou o seu primeiro Carnaval pela Mocidade Alegre juntamente à uma Comissão e foi campeão pela Morada do Samba. Após esse título, Sidnei conquistou um tricampeonato ainda pela escola do bairro do Limão (2012, 2013 e 2014) e é o atual campeão do Carnaval de São Paulo pela Águia de Ouro.

A ligação de Sidnei com o Carnaval inicia-se na infância, por ter familiares envolvidos ao mundo do samba. O carnavalesco conta que assistia com sua mãe a alguns desfiles da Unidos do Peruche em seu bairro ─ Casa Verde Alta, localizada na Zona Norte de São Paulo ─, pois era comum na época que as agremiações se apresentassem a suas respectivas regiões. 

Ainda criança, Sidnei afirma que morava em uma casa em que dividia o quintal com uma outra família a qual tinha o Valdir (atual integrante da velha guarda da escola de samba Mocidade Alegre), que levou seus parentes para a Morada do Samba. Desde então, no início da década de 1980, Sidnei passou a frequentar a escola, iniciando-se uma longa trajetória dentro da agremiação do bairro do Limão.

“As minhas primeiras lembranças da vida são na quadra da Mocidade Alegre”, conta o carnavalesco.

De ala das crianças para carnavalesco

Dentro da Mocidade Alegre, Sidnei exerceu outras funções antes de se tornar carnavalesco. Iniciando na ala das crianças, Sidnei foi então participando cada vez mais da Morada do Samba. Em 2005, tornou-se Diretor Cultural, por gostar de história. Dentro dessa função, Sidnei acabou se envolvendo em como organizar um desfile de escola de samba, pois era ele quem assessorava o carnavalesco da época, além de ser o responsável por pesquisar as sinopses de enredo para o próximo desfile.

Por estar envolvido nesse ambiente, em 2008, após a saída do carnavalesco o qual assessorava, Solange Bichara, presidente da Mocidade Alegre, foi quem o incentivou a se tornar carnavalesco da escola no próximo ano. 

Para 2009, por ainda se sentir inseguro em assinar um projeto sozinho, Sidnei pediu para que se criasse uma Comissão de Carnaval para realizar esse próximo desfile com um grupo com mais três carnavalescos. E o resultado deu certo, pois com o enredo “Da Chama da Razão ao Palco das Emoções, Sou a Máquina, Sou vida, Sou Coração Pulsando Forte na Avenida!”, que falava sobre o coração, a Mocidade Alegre foi campeã do Grupo Especial. 

As conquistas de Sidnei como carnavalesco não pararam por aí. Nos anos de 2012, 2013 e 2014, a Mocidade Alegre conquistou o segundo tricampeonato da história da escola, sendo os três desfiles assinados por ele, em parceria com Márcio Gonçalves. 

Em 2012, A Mocidade homenageou o poeta Jorge Amado, no ano de seu centenário, com o enredo “Ojuobá – No Céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No Coração, Um Obá Muito Amado!”, tendo como inspiração o seu livro “Tenda dos Milagres”, de 1969.

Já em 2013, a Morada levou um enredo sobre sedução ao Anhembi e conquistou o bicampeonato. Com o título “A Sedução me fez provar, me entregar…Da Versão Original, qual será o final?”, a escola abordou também sobre os pecados e a história de Adão e Eva com o fruto proibido.

Em 2014, a escola trouxe algo inovador ao Anhembi ao contar sobre a fé. Durante o desfile, em alguns momentos, todos os componentes da agremiação se ajoelhavam durante o refrão “De joelhos eu vou cantar/ Tenho fé de verdade, vou além/ Na Mocidade, o samba diz amém!”, levando então, o tricampeonato nono Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.

Carnavais após a Mocidade

Em 2016, Sidnei saiu da Mocidade Alegre e foi contratado pela Unidos de Vila Maria, onde realizou o desfile de 2017, que homenageava Nossa Senhora Aparecida, considerada a padroeira do Brasil. A decisão de mudar de escola foi porque Sidnei gostaria de viver um novo desafio, em uma outra escola, já que esteve em apenas uma agremiação como carnavalesco. Um ano depois, Sidnei migrou para a Gaviões da Fiel, realizando o desfile de 2018, sobre os índios Guarus, que deram origem ao nome de Guarulhos ─ cidade da região metropolitana de São Paulo ─, e em 2019, realizou a primeira reedição do Grupo Especial do Carnaval paulistano, com o enredo “A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente”, considerado um importante Carnaval da escola, ocorrido em 1994. 

“Sem dúvida nenhuma, nesses 40 anos de vida, a minha maior emoção foi entrar na avenida com a Gaviões em 2019”, conta o carnavalesco.

Abre-alas da Gaviões da Fiel em 2019. Foto: Marcelo Brandt/G1

Em 2020, Sidnei assinou um Carnaval pela Águia de Ouro, que, até então, não havia conquistado nenhum título no Grupo Especial de São Paulo. Com o enredo “O Poder do Saber ─ Se Saber é Poder… Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer”, a escola da Pompéia contou no Sambódromo do Anhembi sobre a educação e se consagrou, pela primeira vez, campeã do Carnaval paulistano.

Mudanças com a chegada da pandemia

Mesmo com o avanço da vacinação, ainda não se sabe se haverá Carnaval em 2022, por conta da pandemia de Covid-19. Sidnei frisa que o próximo desfile, seja ele quando for, já nasceu na pandemia, pois o enredo, por exemplo, foi escolhido por WhatsApp, entre abril e maio de 2020.

“É um constante ‘trabalhar no escuro’. A gente está trabalhando mês a mês devagar, sem saber quando exatamente tudo isso irá para a avenida, mas, o fato é que vai para a avenida, seja em 2022 ou 2023, isso vai para a avenida”, confirma o carnavalesco.

Sidnei também conta sobre os preparativos da Águia de Ouro para o próximo Carnaval. Em 2020, a escola já escolheu o enredo, “Afoxé de Oxalá ─ ‘No Cortejo de Babá’, Um Canto De Luz Em Tempos De Trevas”, e o samba enredo, sendo uma junção entre as obras 16 e 27, compostas por: Dominguinhos do Estácio, Jorginho Moreira, João Perigo, Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Telmo Augusto, Lucas Valentin, JotaPê, Lanza RafaBerê, Araken Kaoma, Solano Laranjo, Serginho Rocco, Rosali Ahumada Carvalho, Lequinho, Júnior Fionda, Dedé, Rafael Santos, Chocolate, W. Corrêa, Vieira e Rafa Machado.

Campeã do Carnaval 2020, a escola da Pompéia se prepara para tentar conquistar o bicampeonato pelo Grupo Especial do Carnaval de São Paulo. Foto: Marcelo Brandt/G1

Além disso, a agremiação já tem os protótipos das fantasias das alas. Ademais, o carnavalesco conta sobre uma mudança na contagem dos carros para o próximo Carnaval, que, ao invés de serem 5 alegorias, como de costume no Carnaval de São Paulo, as agremiações desfilarão com apenas quatro, por conta da parte econômica das escolas. Na Águia de Ouro, até abril de 2021, três carros estavam em processo de montagem com ferro e isopor.

Uma outra mudança apresentada por Sidnei por conta da pandemia foi a questão do intervalo maior para fazer um Carnaval. Portanto, o acabamento de uma fantasia, por exemplo, acabou recebendo mais atenção do que em um ano “normal” em que esse trabalho era mais rápido. “Apesar de trabalhar no escuro, sem data, tem sido um desfile muito bem planejado, porque o tempo está ajudando”, completa.
Por fim, Sidnei acredita que o primeiro Carnaval pós-pandemia terá uma energia maior de alegria, celebração e efervescência. “Acho que isso vai ser legal, pois as escolas irão se esmerar para entregar um ótimo espetáculo, vão buscar fazer carnavais lindos no aspecto plástico, de acabamento e de impacto visual. Acho que será um Carnaval bem especial nesse sentido”, afirma.

Texto: Jéssica Souza e Victoria Vianna

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Redação Sampa