Capítulo 5 ─ Faculdade do Samba

Arte: Dyego Santos

Assim, naquela noite fria de agosto, no famoso Vilão da Alegria, estava lotado, em sua maioria jovens, que despertariam com muita força para o samba a partir daquele 1974. Todos se integrando ao lado do Cardeal no propósito de criar uma escola de família, como o mestre falou, mais que uma escola, uma Faculdade do Samba.

A casa não tinha mais espaço e os corredores do Vilão, que davam entrada para outras residências, estava movimentado. Assim, irmanados foi fundada uma das mais tradicionais Escola de Samba da Paulicéia.

O guerreiro estava de volta, revigorado, amigos da Branco no Preto, da Verde e do Limão, presentes, outros que eram rivais de pista nos anos de Bela Vista, se apressaram em ajudar com materiais para o primeiro desfile da entidade recém criada. Em seis meses a Faculdade foi para a pista de desfile no bairro da Lapa (SP), local onde disputavam as escolas recém-criadas e do grupo de acesso.

Sem verba, mas com muita credibilidade, a Faculdade fez um lindo desfile sob o comando de José e sagrou-se campeã na frente de 16 escolas, que disputaram o título de 1975. No ano seguinte, com verba oficial, José, comanda mais uma vitória de sua agremiação, desta vez desfilando na Av. São João, recebendo o passaporte para desfilar em 1977 junto das grandes entidades da cidade de São Paulo. 

José era uma lenda no samba paulistano. Na Faculdade do Samba nasceram compositores, mestres-salas, porta-bandeiras, aderecistas, destaques, ensaiando no terreiro de um campo de futebol do bairro, ele mostrou ao mundo do samba a sua força. Em 1977 associou-se com empresários da área cultural e juntos construíram uma quadra de samba na região. Era gente de todos os cantos da cidade para se alinhar e desfilar na Faculdade. Assim, ela cresceu e conseguiu levar para fazer show na quadra, grandes artistas do samba da época. 

Após o Carnaval de 1977,  trouxe uma comitiva da Estação Primeira de Mangueira para batizar a entidade, este grupo fora comandado pelo Sr. Carlota e dona Zica, que ficaram felizes porque a Faculdade do Samba fora registrada com as cores da Estação Primeira.

São Paulo vivia o início do grande sonho do samba e nestes anos muitas escolas foram criadas e como a Faculdade do Samba está aí disputando no Grupo Especial.

José se imortaliza como um grande sambista, recebeu este título na Escola de Samba do Limão, dirigida por um notável sambista que revolucionou o Carnaval paulistano nos anos 70, Jorge Cruz Alta, este mesmo que apelidou nesta época os notáveis do samba com o nome de Cardeal do Samba.

José não plantou a semente, fez duas árvores gigantes florescer o Branco no Preto, que se tornou uma das maiores escolas e a Faculdade um celeiro de muitos sambistas, que hoje se espalham por diversas entidades da nossa cidade.

José cumpriu bravamente sua missão como homem honrado e como sambista, nosso Cardeal deixou nosso mundo em 9 de novembro de 1990.

José homem negro, careca lisa, sorriso largo, caminhou por pedras, enfrentou o asfalto quente, venceu as injustiças desta vida, fez discípulos e deixou um rico legado. Nas mentes e nos corações daqueles, que o seguiram nesta dura, mas feliz caminhada, nosso Cardeal, com certeza está hoje entre amigos, que o precedeu no plano maior, fazendo o que mais gosta: samba.

F I M

Nota: Esta é uma obra de ficção em homenagem a Sebastião Eduardo Amaral (Pé Rachado) e ao Sr. Juarez da Cruz, (criou o nome Cardeais do Samba para homenagear os notáveis que lutaram pela oficialização dos desfiles das Entidades Carnavalescas de São Paulo).

Texto: Ednei Mariano

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Artigo de

Redação Sampa