Em outros anos, lá vinha o malandro descendo o morro, saído das vielas com seu instrumento e cantarolando
Em outros anos, lá vinha a nega veia de saia engomada toda branca, cantarolando
Em outros anos lá vinha o passista e a cabrocha, saiam das favelas para o asfalto, cantarolando
Em outros anos, o Sambódromo, as ruas da Vila Esperança, do Butantã se iluminavam para as entidades carnavalesca passarem e a turba, cantarolando.
Em outros anos, o aderecista dava os últimos retoques nas alegorias, cantarolando.
Em outros anos, a costureira se apressando para entregar as últimas fantasias, cantarolando.
Em outros anos, a ala de canto da entidade fazia exercícios vocais, cantarolando.
Em outros anos, o Mestre Sala a Porta Bandeira e a Porta Estandartes, relembrando os passos fundamentais da dança, cantarolando.
Em outros anos, o Presidente confiante no projeto de desfile, cantarolava assim:
“Chegou, até que afinal, já chegou,
Já chegou o carnaval, festa do povo, festa sem igual,
Chegou, para alegrar os pobres corações,
Desta gente que habita os morros, das favelas e dos barracões.
Chegou até que afinal já chegou”
Mas a realidade de 2021, é esta,
Luzes das passarelas apagadas, a garganta do folião ressecada, embargada.
Nada de festa nada de folia, nada de alegria.
Como dançar se nosso samba está de luto.
Luto pela velha baiana que se foi, luto pelo batuqueiro que não toca mais, luto pela cabrocha que não requebra, pelo passista que não desliza, pela Porta Estandarte que não gira.
Muitos que estariam aqui cantarolando, estão em outro plano.
Muitos de nós que estariam cantarolado, hoje estão chorando.
Chegou o vírus invisível, denominado Covid-19, calando o Intérprete gelou, enlutando o aderecista, deixando a costureira sem trabalho.
Não pode haver carnaval sem confete e serpentina,
Não pode haver carnaval sem vacina, sem vacina, sem vacina.
Não pode haver carnaval sem confete e serpentina.
Texto: Ednei Mariano
