A imunização de sambistas na linha de frente do combate à Covid-19

Felipe Morais, Sonja Marques e Anderson Zago relatam sobre as dificuldades no combate à pandemia e descrevem a emoção da vacinação em 2021

O mundo entrou em alerta em 2020. A chegada de um vírus desconhecido preocupou autoridades e provocou medo na população. Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o novo coronavírus como pandemia, fazendo com que medidas fossem tomadas para controlar a expansão da doença.

Comércios, bares, restaurantes, praias e outros locais foram fechados, e os hospitais passaram a ficar mais cheios. Profissionais da saúde viram suas rotinas mudarem, como é o caso de Felipe Morais, técnico de enfermagem, que atuou no Hospital de Campanha do Heliópolis e trabalha no Hospital Municipal do Tatuapé. Felipe conta que nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o dia a dia se tornou mais pesado e se tornou um verdadeiro desafio, o qual ele e seus colegas se sentiam incapazes de vencer, mas, mesmo assim, jamais desistiram da luta. “Muitos pensam que nós profissionais da área da saúde não temos sentimentos, mas temos, e muito, e essa nova rotina, que nos deixava afastado de familiares e amigos, nos fez sentir que estávamos sozinhos no mundo”, completa. 

Desafios na pandemia

Sonja Marques, técnica de enfermagem. Foto: Acervo Pessoal

Com a mudança de rotina e agravamento da pandemia no Brasil, os profissionais da saúde enfrentaram diversos desafios durante este período. Felipe conta que em setembro, no Hospital de Campanha, 5 pacientes foram vítimas fatais em menos de 12 horas. Por conta disso, houve a saturação de funcionários do local, ficando marcado para ele como um instante de crise. “Nesse momento, eu cheguei em casa e só queria chorar, e desistir de lutar, pois o cansaço era visível, e o esforço não estava tendo retorno”, conta.

Para Sonja Marques, também técnica de enfermagem, o começo da pandemia foi a fase mais difícil, pois, além de deixar todos assustados, a cada dia era uma novidade como, por exemplo, a forma de uso de vestimentas para não haver contaminação, o atendimento aos pacientes e como dar a melhor assistência à eles. 

A negação da população em relação ao vírus foi a parte mais desafiadora para o enfermeiro Anderson Zago, que também conta que, para alguns, os profissionais de saúde eram vistos como vetores da doença, causando muitos transtornos para os trabalhadores da área.

A “picadinha da esperança”

Felipe Morais, técnico de enfermagem. Foto: Acervo Pessoal

A vacina trouxe esperança para o mundo, após meses de preocupações com a pandemia. Os primeiros a serem imunizados foram os profissionais da saúde, pois estiveram em contato direto com a doença. Felipe diz que a “picadinha da esperança” ─ expressão dada pelo técnico para referir-se à vacina─ lhe fez chorar de alegria e gratidão, e afirma que se sente aliviado, porém triste por ter tomado a vacina e mais da metade da população sem sequer saber o dia que será vacinado.

Para Sonja, a vacina foi muito esperada e comemorada, afinal, foi uma descoberta muito rápida. Segundo a técnica de enfermagem, a imunização foi emocionante. Anderson também celebra por ter sido vacinado: “A sensação é de um feito muito grande, pois sabemos que podemos fazer a diferença e mostrar para os nossos que somos mais fortes”.

Carnaval pós pandemia 

Além da profissão, esses trabalhadores têm em comum a paixão pelo Carnaval. Felipe é mestre-sala da escola de samba Morro da Casa Verde; Sonja faz parte da ala da comunidade da Rosas de Ouro e também é porta-bandeira da Leandro de Itaquera; e Anderson é destaque central do abre-alas da agremiação de Santo André, Mocidade Independente Cidade São Jorge.

Anderson Zago, enfermeiro e destaque central do abre-alas da agremiação Mocidade Independente Cidade São Jorge, de Santo André.
Foto: Acervo Pessoal
Sonja Marques, técnica de enfermagem, integrante da ala da comunidade da escola de samba Rosas de Ouro e porta-bandeira da Leandro de Itaquera.
Foto: Acervo Pessoal

Ainda não se tem certeza de um Carnaval em 2021, porém, para eles, a próxima celebração terá um significado diferente.  Anderson acredita que o Carnaval passará por uma grande mudança, pois ficamos desestabilizados. “Com o apoio da união e de nossa comunidade, podemos fazer a diferença e iniciar um novo projeto com mais força e vigor”, completa. Sonja também fala sobre a união das pessoas e afirma que os sambistas estão ansiosos para o Carnaval em 2022.

Por fim, Felipe afirma: “o Carnaval pós Pandemia será mais valorizado em cada Segundo, em cada batida do surdo, em cada ensaio, em cada gota de suor, pois os que puderem curtir o Carnaval pós Pandemia, serão os que venceram, teremos bastante saudades dos que foram, e serão lembrados eternamente”.

Deixe seu Comentário
Artigo de

Victoria Vianna