“Kizomba pra Preto”: Ancestralidade, samba e Carnaval

Conheça um pouco sobre o projeto do carnavalesco Fábio Gouveia que está em exibição no Museu Barão de Mauá

Foto: Bruno Giannelli

O Dia Nacional do Samba é celebrado no dia 2 de dezembro. Nesta data, tradicionalmente, o Carnaval paulistano tem seu olhar voltado ao lançamento do CD com os sambas de enredo para o próximo desfile, tendo uma festa especial com agremiações dos grupos: Especial, Acesso 1 e Acesso 2. Porém, neste ano tão diferente por conta da pandemia de Covid-19, esta comemoração não pôde ser realizada.

Mesmo com esse impasse, a data não perdeu sua importância e essência. Estreou, no Museu Barão de Mauá, a exposição “Kizomba pra Preto”, criada pelo artista plástico e carnavalesco, Fábio Gouveia. 

Segundo o artista, o projeto nasceu de um enredo que esteve guardado há muitos anos, denominado “Quilombo do Samba”. A obra abordaria, através da falsa liberdade dos escravizados, o surgimento das primeiras favelas, dos primeiros batuques e sambistas, por meio da ótica do ator Grande Otelo, que estrelou, de forma poética e lírica, um documentário que contava sobre o samba.

O carnavalesco então se inscreveu no Programa de Ação Cultural Municípios do Governo do Estado de São Paulo. No início, Fábio conta que estava sem esperança de vencer, mas, depois de destrinchar o Edital, percebeu que sua ideia iria bem. E foi. O projeto ficou entre os primeiros da chamada, o que o alegrou muito diante do cenário que estava vivendo.

Foto: Bruno Giannelli

Projeto “Kizomba pra Preto”

O “Kizomba pra Preto” conta com 12 pessoas em seu elenco, sendo artistas (músicos, narradores, atores e bailarinas) e produtores. Em sua exibição, o projeto traz uma cena de Carnaval, onde esculturas carnavalescas criadas e desenvolvidas por Fábio contam como se desenvolveram o samba e seus personagens, a obra aborda também a importância e graciosidade desta cultura para o Brasil e mundo. 

O criador conta como foi a recepção do público com a exposição: “De cara, ninguém entendia o que seria. Até me perguntavam se era uma escola de samba que eu estava criando. Com a proximidade da estréia, foram entendendo do que se tratava. Mesmo com toda dificuldade que a pandemia e o distanciamento trouxeram, conseguimos levar o público e apresentar o projeto com muita qualidade. Tivemos muitos acessos o que impulsionou a exposição se estender por mais 15 dias além do previsto. O público acolheu e anseia por mais”.

Prêmio “Júbilo Cultural e Artístico” e reconhecimento da ancestralidade no Carnaval

No último dia 21, Fábio recebeu do comendador e professor, Caio Evangelista II, e da Secretaria de Cultura e Juventude de Mauá, o prêmio “Júbilo Cultural e Artístico”, por contribuir para o engrandecimento e resgate das raízes africanas, através da exposição “Kizomba pra Preto”. O artista conta que não esperava receber este título, e foi surpreendido, de tal modo que não conteve as lágrimas. 

“Eu me emociono quando lembro do momento em que recebi e todas as vezes que olho na galeria onde ele [o prêmio] está”.

Apesar do reconhecimento por sua arte, Fábio conta que se revolta ao ver críticas às escolas que trazem ancestralidade em sua temática, afirmando que os novos críticos dos enredos se esquecem que a essência do samba, dos desfiles e do Carnaval, nasce dentro de um terreiro, das sambadeiras da Bahia, dos Jongos, das catiras e dos sambas de caboclo (conhecidos como “semba”). “Nossa herança é preta, nosso samba tem este sangue quente por conta de nossos ancestrais. Hoje, um novo modelo de fazer Carnaval ou até mesmo propagar esse patrimônio está mudando e temo por isso, o show é importante mas a tradição não pode morrer”, completa.

Foto: Bruno Giannelli

O futuro de “Kizomba pra Preto”

Por fim, Fábio conta também os planos da exposição para 2021. O projeto ganhará outros palcos, mas, por conta do agravamento da pandemia, teve que aguardar para dar novos passos. O carnavalesco também terá um novo desafio a ser enfrentado, pois a exposição se tornará um espetáculo teatral, denominado “KIZOMBA PRA PRETO a Ópera do Carnaval”. 

“Será uma Ópera popular e de rua onde um elenco maior contará a história do samba por todos os cantos que puder chegar, farei meu Carnaval neste espetáculo, traremos toda a atmosfera de um desfile de escola de samba para o palco. Aguardem!”

A exposição “Kizomba pra Preto” ficará em cartaz até o dia 31 de dezembro, no Museu Barão de Mauá, localizado na Avenida Getúlio Vargas, 276, bairro Vila Guarani, em Mauá.

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Artigo de

Victoria Vianna