Rompendo o silêncio

Francisco José das Chagas, o Chaguinhas. Foto: Wikicommons

O cabo do exército Francisco José das Chagas, popularmente conhecido como Chaguinhas, e o soldado Joaquim José Cotindiba, seu companheiro de batalhão, ambos brasileiros – e, pelo que tudo indica, negros –, foram condenados à pena capital por terem liderado, no final de junho de 1821, uma revolta por igualdade de direitos entre militares brasileiros e lusitanos. A pena foi executada no dia 20 de setembro, no então Largo da Forca, vizinho do Cemitério dos Aflitos, no qual eram sepultadas, desde 1775, as pessoas perseguidas e marginalizadas pelo regime escravista, que vigorou ao longo de todo o período colonial (1530-1822) e por quase todo o período imperial (1822-1889).

Curiosamente, no mesmo ano de 1858 em que o Cemitério dos Aflitos deixou de funcionar, graças à inauguração do Cemitério da Consolação, o Largo da Forca passou a se chamar Praça da Liberdade, conforme ata da Câmara Municipal do dia 29 de outubro daquele ano.

A tradição oral, no entanto, atribui essa nomeação ao assassinato de Chaguinhas, ocorrido quase quatro décadas antes, quando as pessoas presentes clamaram pela sua liberdade, sobretudo porque a corda arrebentou na primeira tentativa. Mandou-se, então, trazer de um açougue próximo uma tira de couro, que também arrebentou ao peso do condenado. Conhecida testemunha ocular da execução, o padre Antônio Diogo Feijó, futuro regente do Império, relataria anos mais tarde que, na terceira tentativa, Chaguinhas “caiu ainda semivivo, e já em terra foi acabado de assassinar”.

Seja como for, o marco de dois séculos do assassinato de Chaguinhas se dá pouco mais de três anos depois da adição da palavra “Japão” ao nome da Praça da Liberdade (Lei Municipal 16.960) e da estação do metrô local (Decreto Estadual 63.604), ambos os dispositivos publicados em julho de 2018, com repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa. Em dezembro do mesmo ano, escavações arqueológicas, realizadas em um terreno particular ao lado da Capela dos Aflitos, encontraram nove ossadas do século XVIII, também com repercussão, dessa vez positiva, na mídia brasileira.
Esses acontecimentos colocaram no centro do debate público um aspecto do bairro da Liberdade até então silenciado.

Em função disso, no dia 28 de janeiro de 2020 foi sancionada a Lei 17.310, que cria o Memorial dos Aflitos, a ser construído no terreno mencionado, que por sua vez teve a sua utilidade tornada pública, para desapropriação, pelo Decreto Municipal 59.750, de 9 de setembro do mesmo ano. A construção do Memorial está no Plano de Metas da Prefeitura.

Texto redigido pala UNAMCA >> União dos Amigos da Capela dos Aflitos

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Artigo de

Redação Sampa