Anderson Chocolatte: A história viva do samba da Vila Maria

Mais conhecido como “Chocolatte de Vila Maria”, o sambista conta como foi a sua trajetória como artista independente

Foto/Reprodução: Divulgação.

Nascido na Costa do Cacau, no estado da Bahia, Anderson Luciano Santos, conhecido como Anderson Chocolatte ou Chocolatte de Vila Maria, chegou em São Paulo quando criança, juntamente com sua mãe e seu irmão. Ainda pequeno, ganhou o apelido de Chocolatte dos colegas de escola.

Seu primeiro contato com o samba aconteceu aqui em São Paulo. Chocolatte conta que o samba surgiu na sua vida como ato de resistência, e que o bairro de Vila Maria, localizado na Zona Norte da capital paulista, entrou na sua vida antes mesmo da escola de samba.

Foi no famoso reduto de samba da Vila Maria, o Bar do Arthur, localizado na Rua Andaraí, era frequentado por grandes artistas brasileiros em um período em que a escola de samba Unidos Vila Maria ainda não era uma escola de Grupo Especial, mas já fazia muito sucesso, principalmente com sua roda de chorinho.

Foi na roda de chorinho do Bar do Arthur que Anderson Chocolatte começou sua trajetória como sambista e percussionista, quando aprendeu com os mais velhos a tocar instrumentos como ganzá, surdo, tamborim, caixa e agogô.

Em entrevista à Sampa, Anderson Chocolatte conta que foi a partir do Bar Arthur que a banda de chorinho começou a receber convites para shows. “Começamos a fazer shows na beira de campo para os times de várzea que não tinham dinheiro para contratar banda de baile e contratavam a banda de charanga”.

A partir daí surgiram convites para tocar em carnavais de salão, onde a banda tocava os sambas tradicionais, os sambas enredos e até as marchinhas de carnavais. O grupo fazia muito sucesso, pois trazia o verdadeiro samba de quadra, o samba exaltação.

Carreira Independente

O samba sempre bateu forte na vida de Anderson Chocolatte. Depois de se identificar com o instrumento na banda de charanga, ele aprendeu a tocar cuíca. Foi então que ele percebeu que poderia viver da música. “Através da música eu podia levar o pão de cada dia para dentro de casa e isso foi me dando cada vez mais gosto pela música e mais amor pelo meu trabalho.”

E foi na extinta Universidade de Música (ULM)que Anderson se formou em música e aprendeu a tocar bateria. Em 1997 foi convidado para tocar bateria na banda Quinteto em Branco e Preto, a qual Beth Carvalho era madrinha. Em 1999 saíram para contribuir com o renascimento da cultura africana em Johanesburgo, na África do Sul. “Beth Carvalho foi minha madrinha musical e me proporcionou a conhecer novas culturas, coisa que não tem preço.”

Depois da turnê, Chocolatte de Vila Maria gravou seu disco intitulado Chocolatte Canta Partido Vol.1. Segundo Chocolatte, estava faltando um disco de partido alto no mercado. Com o sucesso do disco, começou a receber convites para fazer shows, o que ajudou a impulsionar sua carreira independente.

Logo depois, lançou o seu segundo disco, A Fantástica Bateria do Chocolatte Vol. 1, um CD totalmente  instrumental de batucada com muita cuíca e tamborim. Segundo Chocolatte,  “o disco ensina a tocar, e muita gente comprou o CD para aprender a tocar instrumentos através dele”. O disco chegou aos ouvidos do famoso Alan Canadence, que, durante a Copa de 2014, convidou Anderson para  fazer 10 shows em Toronto, dando início a sua carreira internacional como cantor e sambista.

Em seu mais recente trabalho, chamado Herança Popular, Chocolatte canta composições de músicos da velha guarda paulista como Chapinha do Samba da Vela, Toinho Melodia, Murilão da Boca do Mato, Magnu Souza e Maurilio de Oliveira. Seu disco ainda conta com muito samba de partido-alto.


Com a pandemia, Chocolatte acredita que estamos passando por um  momento de descultura no Brasil, “a cultura preta de samba precisa de mais espaço em grandes espaços culturais e festivais. Hoje em dia, artistas independentes não tem respaldo nenhum do governo”, conta. Assim como outros artistas independentes durante a pandemia, Anderson precisou fazer outras coisas para poder se manter.

Em seu livro autobiográfico “A Fantástica estrada de Chocolatte” Anderson conta tudo sobre sua trajetória no samba e sobre as dificuldades que enfrentou como artista independente. “O livro é uma autobiografia que conta um pouco de como é viver de arte no Brasil”. A obra contou com a colaboração do escritor João Campos, professor da Universidade da São Judas, o prefácio de Oswaldo Faustino, e a capa de Bento e Elifas Andreato. O livro está à venda na livraria Martins Fontes ou comprando diretamente com o Chocolatte.

Bloco do Chocolatte

O Bloco do Chocolatte completará 10 anos em 2022. Totalmente filantrópico,o bloco, que foi criado por Anderson com a grande intenção de ser um bloco familiar, destinado às crianças da Vila Maria, com apresentações em espaços culturais, rodas de samba, praças públicas, teatros e eventos comerciais. 

O bloco arrecada cerca de uma tonelada de alimentos todo ano e doa esses alimentos para entidades locais. O Bloco do Chocolatte é regado de muita marchinha, samba, samba-enredo e outros gêneros musicais.

A princípio, o Bloco do Chocolatte está sem sede, mas para fazer a doação, o interessado poderá entrar em contato com o Chocolatte através do número: (11) 98361-5263 para saber onde deixar sua doação. 

Confira o clipe da canção “Olha o Peixe”, interpretada por Chocolatte de Vila Maria:

Informações e contatos para show:
Telefone: (11) 9474-12346
Email: chocolattedosamba@gmail.com
www.afantasticabateria.com

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Artigo de

Joyce Nayra