Capítulo 1 ─ José Menino

Arte: Dyego Santos

José, menino pretinho de pernas cinzentas, corre nas ruas empoeiradas de Cruzília, cidade localizada no sul do Estado de Minas Gerais. José nasceu em 1926, os pais já libertos, mas os avós maternos e paternos foram escravos. A mãe Laura e o pai Sebastião arrendaram um lote das terras do fazendeiro João Cruz Alta de Andrade, homem rico e poderoso da região, a qual tinha um olhar social para com os negros recém libertos e marginalizados. Para ele, estes se prestavam e obtinham forte rendimento na cultura agrícola da região e sem encargos empregatícios alugava lotes e assim, ganhava muito dinheiro com os recém libertos.

As terras eram férteis, havia o cultivo e a colheita boa, o milho, o feijão, e todo tipo de hortaliças. Além das pagas ao dono da terra, a família do senhor Sebastião abastecia os mercadinhos da pequena Cruzília e José juntamente com seu irmão Leopoldo eram encarregados de levar as encomendas aos comerciantes local.

Os meninos aproveitavam a volta já sem as mercadorias, para fazer as estripulias de crianças. Tudo era festa para os crioulinhos e José, o mais falante e cantador, atraia com sua alegria a simpatia de todos.

No ano de 1936, com alguma economia, Sebastião e Laura, resolvem deixar a vida na fazenda e buscar a grande cidade, queriam que os meninos estudassem e com o nascimento da filha Tereza, resolveram seguir para São Paulo, onde já moravam outros familiares. Assim, deixaram o campo.

Ao chegar na cidade grande se instalaram em uma casa pequena, mas confortável, no bairro da Bela Vista, ali estariam perto do centro e também dos grandes palacetes da Av. Paulista. Laura, uma exímia lavadeira, não faltaria serviço e Sebastião com as economias que fizera, tinha em mente abrir uma mercearia na região.

Mas chegando, em São Paulo, tudo mudou, uma prima arrumou um serviço fixo de lavadeira para Laura e de Jardineiro para Sebastião. Eles começaram a trabalhar em um dos muitos palacetes da rua nobre dos paulistanos.

Conquistaram de imediato, os patrões, que promoveram junto ao diretor do Grupo Escolar Rodrigues Alves a inclusão dos meninos no ensino fundamental, enquanto que Tereza ficava durante o dia sob a guarda de uma prima.

Os meninos José e Leopoldo saiam de casa cedo com os pais, que os deixavam na porta da escola, na parte da tarde eles, bem espertos, iam sozinhos para casa, faziam os deveres escolares e brincavam nas ruas e praças do bairro.

Assim foi o primeiro ano da família na cidade grande.

Texto: Ednei Mariano

Deixe seu Comentário
Artigo de

Redação Sampa