Elvira demorou para pegar no sono, acordou várias vezes em sobressaltos até que na madrugada apagou.
Pela manhã, assistindo o noticiário da TV, a reportagem dizia, que na noite anterior, havia ocorrido um conflito de grandes proporções, entre os alunos e polícia justamente da faculdade onde Otávio estudava. Elvira ficou muito nervosa, mas achou que Otávio não estava na confusão, porque na hora do ocorrido ele estava em Santos. Sua mente forçava a acreditar que fora real a visão da noite anterior.
As horas foram passando e nada de receber notícias de Otávio. Ela teve a ideia de ligar para os primos dele, que moram em Vila Mathias, para saber se tinham falado com o namorado nas últimas horas, mas foi negativo, ninguém falara com Otávio. Ela contou a história ocorrida na noite anterior e os primos lhe explicaram, que por motivo da confusão na faculdade, Otávio não falou com ela e resolveu voltar logo para São Paulo.
Elvira se acalmou e voltou a sua rotina, mas algo na sua mente a deixava inquieta. Dois dias se passaram e não tinha notícias de Otávio. Com muito custo conseguiu falar na casa do namorado, a empregada atendeu e disse que não sabia do Otávio, mas achava que estava tudo bem, porque como ela faltará no serviço três dias por motivo de doença, acreditava que estava tudo bem.
Assim passou uma semana, até que um dos primos do namorado procurou Elvira e contou que havia acontecido uma tragédia, Otávio estava no meio dos estudantes que resistiram à entrada da polícia no campus da Universidade. Ele foi ferido mortalmente e não resistiu.O primo falou que a família ficou tão transtornada, pois o corpo do rapaz só fora localizado depois de 5 dias do ocorrido. Devido ao estado em que fora encontrado, a família decidiu realizar um enterro rápido.
Elvira ficará alucinada de dor, amparada pelos familiares e inconformada, foi um pranto sentido. Os pais resolveram que na manhã do dia seguinte iriam a São Paulo, para saber da história da família, e assim aconteceu.
Chegando na casa de Otávio no bairro do Planalto Paulista, a menina foi recebida com muito carinho e recebeu o pedido de desculpa dos pais, que estavam desolados, pelo ocorrido. Contaram com muita tristeza toda história e luta de mais de uma semana para localizar o corpo do filho, já que os órgãos de repressão se apressaram em contar outra história e não a verdadeira, que foi a invasão truculenta e sob rajadas de tiros molharam o campus da universidade de sangue daqueles jovens, que se opuseram e resistiram a entrada da polícia política no local.
Os pais falaram que Otávio foi um dos primeiros a tombar ferido mortalmente, pois pelo laudo médico, ele faleceu na mesma noite. Elvira atordoada ficou sem entender, porque na mesma data e hora do ocorrido ele estava diante da sua casa, descreveu para os pais a roupa que Otávio estava usando e os mesmos confirmaram que era a mesma roupa, que ele fora para a faculdade naquele dia fatídico.
Elvira quis saber e pediu para que fosse levada ao Cemitério de Vila Mariana, local onde Otávio fora sepultado. Os pais, mesmos cansados, saíram em carreata e foram até o lugar, e lá chegando mostraram o túmulo para Elvira que ao olhar, perdeu as forças e desmaiou. Depois de algum tempo recobrou o sentido, e todos estavam aturdidos quando olharam para o túmulo e viram o casaco de Elvira estendido.Todos compreenderam a força do amor de ambos, mesmo depois de tombar mortalmente, Elvira conseguiu ver seu namorado, na noite nebulosa pela força do amor, ele se despedir.O casaco da amada cobrindo sua última morada é a prova de que ele estivera em espírito em Santos, depois de liberto da matéria física.
F I M.
Texto: Ednei Mariano
