Época em que o samba era coisa de preto, os sambistas eram marginalizados, mal vistos e enquadrados da Lei da Vadiagem. Sim, fazer samba em São Paulo se resumia nisso aos olhos das autoridades e da elite paulistana. O bairro da Liberdade, que hoje é conhecido pela presença japonesa já foi um reduto de pretos e seus mestiços. Ali também existiu o Largo da Forca onde muitos escravizados foram mortos e enterrados no local.
O bairro abrigou importantes organizações da população afrodescendente, como a Frente Negra Brasileira. Mais tarde o sindicato das domésticas fundado pela mãe de Geraldo Filme, o Paulistano da Glória tinha seu salão, cordão e posteriormente virou escola de samba.
Mas não estava sozinho ali, a mais antiga escola em atividade fundada pela Madrinha Eunice e Chico Pinga, a Lavapés, também morou no bairro por quase todo seu tempo de vida. Mais pra cima a Unidos da Galvão Bueno, do famoso apitador Rubinho que trilava o hino nacional a frente da bateria. Na Muniz de Souza, foi fundado o Império do Cambuci pelo saudoso Sr. Sinval Rosa, Du Carmo entre outros baluartes. Todas essas escolas tinham algo em comum: O vermelho em seu pavilhão.
Escolas de samba de batuque pesado, aquela levada típica paulista que hoje praticamente não existe mais. Que tinham a comunidade negra presente e estes eram núcleos de convívio social e cultural naqueles pesados e tortuosos anos 70 em plena Ditadura Militar e a repressão dos seus órgãos. Dá para imaginar nos dias de hoje essas quatro escolas de samba em pleno bairro da Liberdade? Pois é!
A Unidos da Galvão Bueno teve seu ensaio tragicamente invadido pela Força Pública, o que resultou em tiros e carros incendiados. Foi o fim da escola que enrolou sua bandeira após o ocorrido. O Império do Cambuci saiu do bairro, teve altos e baixos e também não existe mais, deixando muitas saudades. O Paulistano da Glória também sucumbiu ao crescimento do bairro, do carnaval e entrou para os anais da história. A Lavapés há um ano mudou-se para o Jabaquara. A Liberdade ficou apenas com os tambores orientais, deixando no passado e no coração daqueles sambistas que curtiram o circuito vermelho do samba, um “gostinho de saudade…”