Velha Guarda: “ESTAMOS VELHOS, MAS AINDA NÃO MORREMOS”

Foto: Marcelo Messina

Com essa contundente frase, extraída do hino da Velha Guarda da Portela, solicito a devida permissão para falar um pouco sobre essas emblemáticas senhoras e emblemáticos senhores, peças fundamentais das escolas de samba e do próprio Carnaval.

É bem verdade que a fundação das agremiações remonta para, os cada vez mais longínquos anos 20 e anos 30, enquanto a velha guarda somente teve a sua primeira constituição em 1970. Mas, podemos colocar nas justas costas de seus membros a criação, manutenção e eternização da cultura carnavalesca. E, se hoje, tenho a oportunidade de escrever sobre esse, ainda, vivo movimento artístico, muito se deve aos passos e ao suor destes baluartes.

Quando o jovem Paulinho da Viola, no alto dos seus 20 anos, reuniu os membros mais antigos da Portela e criou o primeiro grupo do Brasil, teve por objetivo, registrar e perpetuar sambas e histórias, não imaginava que, ainda que despretensiosamente, propagaria entre as coirmãs, um movimento de criação de suas próprias velhas-guardas. E mais que isso, além de iniciar uma mobilização cultural e musical, começou uma verdadeira onda de agradecimento e reconhecimento para esse seleto grupo, que reúne os mais experientes das agremiações.

Como se via nas mais antigas civilizações, é escorando-se no passado que se firma o presente e se vislumbra e traça um prodigioso futuro. Peço perdão pela frase de efeito, e meio cliché, mas em tempos onde o luxo e a grandiosidade tomaram conta do carnaval, em escalas cada vez mais progressivas, verifica-se, infelizmente, uma gradativa perda da essência do conceito de “Escolas de Samba”: aquele ideal de aprendizado e transmissão intergeracional de conhecimento.

Assim, definindo-se as agremiações como verdadeiras famílias, teríamos nos membros da velha guarda, verdadeiras figuras patriarcais e matriarcais, com a essência das mais primordiais formas do aprender. A transmissão direta de pai para filho, de avó para pai, de sambista para aprendiz. E, convenhamos, pelo menos 50 anos de idade e 25 de chão de quadra, mínimos que a maioria das escolas trabalha para elevação às prateleiras dos imortais, indica que estes têm muito a nos ensinar.

Falando em aprendizado, das mais diversas buscas para a transcrição desta singela passagem, conversando, em algumas oportunidades, com integrantes dessa fascinante ala, importantes lições absorvi, desenvolvendo ainda mais a empatia e o reconhecimento. Afinal, ler que superou-se o medo de altura para desfilar em carro alegórico num ano, e no outro, desafiar limites médicos e físicos para sambar pela avenida é algo deveras inspirador. É uma explosão, sem explicação, de amor. Muito obrigado, dona Alcina.

E me perguntei: como eu poderia chegar nesta melhor idade, e posição, com a alegria, disposição e irreverência que a eles tanto são peculiares? Eis o Mistério do Samba™!

Despeço-me deste texto, mais uma vez cortejando os membros das mais diversas velhas-guardas do país. E, se, para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, portadores do sagrado pavilhão, curvo-me em respeito, a vocês, admiráveis e simpáticos baluartes, faço minha reverência, em gratidão.

 

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Redação Sampa