Capítulo 4 ─ Senhor do Samba

Arte: Dyego Santos

José, era um homem incansável, um estudioso em cultura negra. Além da Presidência da Entidade, ele fazia pesquisa das histórias que o Cordão ia contar nas festas monísticas, assim foi se instruindo cada dia mais. Com esta dinâmica, era respeitado nas rodas dos homens pretos, muitos até mais letrado do que ele, mas por seu conhecimento e discernimento, José sempre se destacava nas rodas de conversas que varavam a noite, que era regada de muito conhaque e cerveja.

Os anos sessenta iam, e com seus amigos, ajudou na fundação de um clube, onde os negros pudessem ter seu espaço de lazer. 

A aristocracia paulistana promoveu encontros culturais, bailes de debutantes para as jovens negras, esporte recreativos, além da sede social no centro da cidade, compraram uma vasta área na zona sul, onde construíram um clube de campo.

Cada vez mais líder, José com outros dirigentes de entidades sambísticas de São Paulo, conseguiram, em 1967, junto aos órgãos públicos, que os desfiles carnavalescos fossem oficializados. Assim, além dos recursos próprios as entidades, teriam uma verba pública e uma infraestrutura para os concursos e o primeiro deu-se em 1968.

Com esta conquista começaram a surgir várias escolas de samba. A busca ocorreu nos moldes do carnaval carioca na maneira de avaliar a melhor entidade, e esta avaliação deu-se pelo julgamento em quesitos. Após o carnaval de 1971, José, com seu amigo Inácio, Presidente do Cordão Verde, e Romualdo, do Cordão Fita de Ouro, os três últimos remanescentes da era de ouro destas entidades paulistanas resolveram que as mesmas a partir de 1972, desfilariam na categoria de escolas de samba.

Abriram mão da categoria Cordão e no primeiro desfile, o Preto no Branco e o Verde ficaram entre as três maiores escolas do ano.

Os anos 70, difíceis para o povo brasileiro vivendo em plena ditadura, mas as entidades resistiam e o governo de Brasília, tinha o carnaval com o ópio do povo. Eles investiam na festa para mascarar a repressão contra os opositores do regime, o Brasil mostrava para o mundo uma falsa felicidade, os negros em sua maioria eram os dirigentes das entidades. Souberam tirar proveito disso e fortalecer a nossa cultura e ganhando espaço no cenário político, para eleger mesmo na oposição seus Vereadores e Deputados Estaduais, os que ainda poderiam ser votados pela população nesta era ditatorial.

José nunca se envolveu com política partidária, mas trazia através dos candidatos e eleitos aficionados em samba, benefícios para sua escola de samba.

Com o crescimento dos desfiles nos anos 70, São Paulo começou a se destacar pela sua organização, as escolas de samba atraíram gente para seus quadros com ideias inovadoras e diferentes, daquilo que os antigos sambistas visionavam e assim começaram os conflitos internos.

O Branco no Preto tornou-se grande. José para não dividir a entidade que tanto amava, foi forçadamente a deixar o cargo e acabou se afastando do grupo, como tinha muitos amigos no Rio de Janeiro, preferiu passar o carnaval de 1974 na Estação Primeira de Mangueira, em companhia com o grande Cartola e Dona Zica, circulando pelo morro nas moradas de Jamelão, Ciro e do Presidente da época Júlio César. Estes amigos do Rio o incentivaram a voltar a São Paulo e a fundar uma escola de samba. A ideia foi reforçada pelo seu amigo Inácio Presidente da Escola Verde, que lhe prometeu ajuda nos primeiros anos, uma vez que as escolas que estavam nascendo teriam que começar a desfilar no grupo de iniciantes e no primeiro ano não teriam verba pública.

José renovado e cheio de esperanças, com filhos moços e amigos resolveram fundar uma escola, só que arrojado como era, na noite de 7 de agosto de 1974, no bairro de Vila Mariana, disse emocionado ao iniciar a reunião:

“Nós vivemos e crescemos em uma escola de samba, o que a gente vai fundar hoje aqui será uma Faculdade do Samba”

Texto: Ednei Mariano

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Redação Sampa