Capítulo 2 ─ José e o Cordão

Arte: Dyego Santos

Janeiro de 1937, os meninos acordaram cedo e como era sábado, logo após o café, saíram para brincar, enquanto o pai, Sebastião, ligado nas notícias do rádio que falava do conflito armado na Europa, ali já se prenunciava anos de terror com a Segunda Guerra Mundial.

No final daquele mesmo dia, os moleques brincando na calçada avistaram um grupo de homens bem trajados com vários instrumentos de sopro e bumbos. Vinham em animada cantoria. José puxou o irmão e com outros amiguinhos foram atrás daquele povo animado, um ritmo quente que logo encantou José e despertando a sua musicalidade.

Menino curioso, ao final da roda do grupo pelas ruas do bairro, perguntou a um dos componentes de que se tratava este grupo. O rapaz disse que era um grupo carnavalesco, que chamavam de Cordão, e estavam ensaiando para se apresentarem nos dias de Carnaval pelas ruas da cidade.

O garoto se interessou e ficou um bom tempo conversando com o jovem músico, disse que o grupo chamava-se Cordão Preto no Branco e ensaiava aos sábados e domingos, sempre no final da tarde.

O tempo passou e no Carnaval de 1940, José, já rapazinho, se incorporou ao grupo e foi com a turma tocando bumbo pelas ruas da cidade, com uma fantasia confeccionada para ele. Ele se sentiu um rei no meio de tantos foliões, ao lado de vários amigos e familiares do bairro, o menino José assim iniciou sua carreira sambística.

O menino buscava sua independência financeira, estudava pela manhã e à tarde saia com sua caixinha de engraxate e ia para a Praça Dom Orione, a fim de engraxar os sapatos dos italianos, imigrantes já bem estabelecidos no bairro. Assim, começou a ganhar e guardar seu dinheiro.

José trouxe o brilho da alegria e a descontração de criança para a adolescência, logo se tornou muito querido no bairro. Era bem tranquilo, mas quando alguém arengava com ele não corria das brigas e já investia no oponente dando cabeçada. Tornou-se um homem respeitável.

Os anos desta década foram passando, o mundo em um conflito global, que trouxe muita penúria ao povo brasileiro, era a Segunda Guerra Mundial. O Brasil ficou ao lado dos “Aliados”, contra os alemães, italianos e japoneses, e ao lado dos Estados Unidos, Inglaterra e França, Rússia entre outros ganharam a guerra que durou até maio de 1945, anos de muita dificuldade principalmente para a população mais pobre, em compensação pelo apoio do Brasil, ao final dos anos 40 e início da década de 50 o país começou a receber muitos investimentos estrangeiros e criações de empresas multinacionais, a criação da Petrobrás e da Companhia Siderúrgica de Volta Redonda, marcando uma fase de progresso para o país.

José, se profissionalizou em várias áreas e seguiu neste embalo, como pedreiro e depois como empreiteiro cruzou o país nas obras que se agigantaram, mas, chegava fevereiro, largava tudo e vinha para a Bela Vista, cuidar do Cordão que bem jovem assumiu a presidência do grupo.

Texto: Ednei Mariano

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Redação Sampa