Conto: Amor de Carnaval

Capitulo 01 – Banho da Dona Doroteia

Arte: Dyego Santos / Foto na arte: Arquivo pessoal do historiador J, Muniz

No final dos anos sessenta, o Brasil vivia uma turbulência política muito grande com os militares no poder, uma juventude alvoroçada, inconformada com o regime em confrontos inevitáveis, com os órgãos de repressão em uma violência desmedida dos dois lados. Enquanto o governo reprimia, os inconformados faziam os assaltos a bancos, sequestros em um tempo ditatorial.

O governo a todo custo queria manter o controle de tudo, os movimentos eram afrouxados e somente no carnaval que funcionava com um ópio para o povo. Nestes dias parecia que vivíamos em outro Brasil e o falso brilhante estava nas festas, na folia de momo. Assim o governo acalmava os ânimos.

A cidade de Santos (SP) , nesta época fervilhava de turistas. Uma semana antes do dia oficial, a cidade, que já era folia pura, lotada de festeiros em férias de verão ou para curtir dias de carnaval.

O domingo que precede o carnaval, acontecia uma grande festa chamada de Banho da Dona Doroteia, que era o desfiles de vários blocos de fantasias a beira mar, e no final os foliões fantasiados entravam ao mar. Era uma festa fantástica, que durou até os anos 80, com muita participação dos moradores local e assistida por milhares de turistas e foi nesta festa que Elvira conheceu Otávio.

Elvira era uma moça bonita da capital paulista, mas que crescerá no litoral. A sua família era de classe média, o pai médico, a mãe funcionária da receita federal. A jovem tinha pele bronzeada, devido a descendência indígena do lado materno e espanhola do paterno. A menina era dedicada aos estudos, mas na época de carnaval se entregava a folia com suas amigas. Otávio era um jovem de 21 anos, negro de um metro e noventa de altura, esguio, esportista, estudante de direito da Puc Paulistana, morava na capital, mas todo verão estava em Santos em casa de parentes no bairro de Vila Mathias. Nesse local passava a estação mais quente do ano, gostava de samba e com os primos frequentava e desfilava na Escola de Samba X 9 de Santos.

Os jovens se encontraram no final da tarde de domingo no bairro do Gonzaga, que era onde terminava os desfiles. Lá ficaram em turmas curtindo os foliões se banharem de fantasia, até que a noite chegou e eles não perceberam.

A diversão era garantida, na visão dos últimos carros alegóricos ,que fechavam o cortejo e um deles chamou a atenção, pois estava muito enfeitado, nele estava a homenageada da festa, Dona Dorotéia. Ela era uma rica comerciante santista, que organizava com outros amigos esta grande festividade pré carnavalesca. Ao chegarem perto do carro ficaram carregados de confetes e se enrolaram em serpentinas, tudo era lindo naquele momento em que os jovens se viram abraçados e realizados por aquele encontro.

Neste clima nasceu o primeiro beijo.

Texto: Ednei Mariano

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Redação Sampa