Quando o carnaval foi adiado

Prezados leitores, antes de qualquer coisa cabe a mim destacar que na presente coluna, muito embora o título, não buscarei profetizar sobre os rumos que tomarão os próximos carnavais, por conta da pandemia que está assolando o mundo. A intenção desse texto é relembrar os anos em que a maior festa popular desse país sofreu adiamento, abordando algumas questões históricas e as consequências dessas mudanças de data.

Em específico, citarei dois anos em que o carnaval não foi comemorado nos tradicionais meses de fevereiro ou março: 1892 e 1912.

1892

Começando a análise em ordem cronológica, voltamos para o ano de 1892, época em que o Rio de Janeiro era a capital federal, centro de todas as decisões administrativas, onde via-se crescer gradativamente as festividades carnavalescas. 

A decisão de mudar a data para o dia 26 de junho foi idealizada pelo Ministro do Interior brasileiro, por considerar que as festividades produziam muito lixo e as cidades não possuíam condições estruturais e sanitárias para a realização do evento, transferindo-o para um período mais frio, com o intuito que houvesse menos participação popular, o que seria, segundo ele,  mais saudável e menos poluente.

Muito embora o país realmente estivesse passando por graves problemas de saúde pública, como as crises de febre amarela e da tuberculose, a mudança do carnaval, do verão para o inverno, não foi bem recebida pela população, que desde o primeiro momento mostrou-se contrária à medida. O povo, indignado com a decisão, acabou por ignorá-la e comemorou em ambas as datas.

1912

Prosseguindo a análise, chegamos ao ano de 1912, quando mais uma vez o governo alterou o dia da grande festa popular. A troca, desta vez, decorreu do falecimento de um dos mais importantes personagens da história brasileira. Advogado, jornalista e diplomata, José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio Branco, foi Ministro das Relações Exteriores por 10 anos consecutivos, oportunidade em que, por sua grande capacidade de articulação, conseguiu solucionar inúmeros conflitos nacionais e internacionais, colaborando efetivamente para a formação das fronteiras brasileiras tal como as conhecemos hoje.

Após lutar contra problemas renais, veio a falecer em 10 de fevereiro de 1912, com 66 anos de idade, uma semana antes do carnaval, o que causou uma grande comoção popular e também o impasse sobre a realização ou não das festividades. Apesar de inicialmente o governo sustentar a data, pressionado por uma parcela considerável da população, que por ele nutria grande empatia e queria resguardar o luto, transferiu o período oficial da folia para 6 e 7 de abril do mesmo ano.

Assim como em 1892, nem todos os populares acataram a decisão, e ignorando o luto dos outros, comemoraram tanto em fevereiro como em abril, inclusive utilizando a festa para ironizar e criticar o governo, como se observa na famosa marchinha criada à época, em referência ao então Presidente Marechal Hermes da Fonseca:

“Com a morte do Barão

tivemos dois carnavá

Ai, que bom, ai que gostoso

Se morresse o Marechá”

Conforme mencionei no início desse texto, não sabemos os rumos desta e de tantas outras festas populares, contudo desejo que muito em breve possamos voltar a celebrar todas as datas que virão, e que nossa única preocupação de mudança seja com relação aos dias e meses que venham a cair os próximos carnavais.

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Artigo de

Redação Sampa