O tempo que o samba viver
O sonho não vai acabar
E ninguém irá esquecer
Candeia
O Sonho não acabou — Composição de Luiz Carlos da Vila.
Talvez fosse apenas um devaneio ou quem sabe mais uma loucura de um carnavalesco genial.
Fui visitar o passado e me peguei a imaginar a passagem do Célebre Candeia a São Paulo, em pleno período de Ditadura no final dos anos 70 e início dos anos 80 para conhecer uma escola de samba, parece uma heresia?
Logo Candeia que fora um dos nomes em forte evidência no samba carioca, disputado por diversos compositores e músicos de todas as esferas, vir transitar aqui pelas ruelas e rodas de samba da cidade?
Bem, após a exposição de seu trabalho a mídia e a imprensa, ele se tornou um dos sambistas que muitos queriam beber da fonte e para alguns ele fora definido como um “homem além do seu tempo”.
Se olharmos com apreço, podemos dizer que sua carreira foi divida em duas fases bem opostas: Antes de seu acidente e pós o seu acidente. Como se a sua genialidade
tivesse despertado com o trauma sofrido (Candeia se tornou paraplégico após ser baleado em uma discussão de trânsito).
Em suas letras e canções, fica evidente a sua capacidade de explanar a vida de forma diferenciada, com poesias ricas, cítricas e contundentes, capazes de seduzir até quem por via de regra não tinha tanta aptidão ao samba.
Candeia construiu o seu legado que foi muito além da fundação do GRANES Quilombo, ele foi por um período o epicentro das matrizes e raízes africanas não exploradas a época e que através de suas canções ganharam notoriedade abrindo os olhos do mundo para o seu trabalho.
A semente plantada e enraizada sobre Osvaldo Cruz e São Cristovão, foram suficientes para inspirar Candeia a atravessar fronteiras e desembarcar em nossa Capital, em um período no qual vivíamos a consagração do samba de quadra e por consequência as rodas de samba que começavam a ser ouvidas entre as engrenagens das fábricas e o batuque das marmitas.
Era a São Paulo romântica, das lâmpadas da Light, do cheiro de café na Rua do Comércio e dos batuques dos engraxates no coreto do final da Rua Xv de Novembro.
Entre tantas concentrações de sambistas pela cidade, uma ganha um grande destaque!
A roda de samba organizada nas Quadras da Mocidade Alegre, no Bairro do Limão, que reunia a nata de diversas escolas de samba, uma aglomeração de curiosos e uma porção de sambistas de vários calibres.
Este era o momento do povo consternar as amarguras da vida através do choro de uma cuíca.
Com a batuta do Sr. Juarez da Cruz , o samba estendeu seu “chão batido vermelho” para recepcionar com honras o grande alquimista das terras cariocas.
E assim, ele desembarca na zona norte da cidade em um período de difícil acesso a região igualmente que acontecia com muitos bairros em terras fluminense.
Logo, ele se sente abraçado e acarinhado por diversos sambistas e ali possivelmente ele tenha enxergado a tamanha grandeza que o samba tem para nossa sociedade.
Pois é, quem começou a ler este texto e acreditou que era apenas um devaneio de minha mente maluca, sinto dizer que estava errado…
Este encontro foi real!
Talvez este seja o único registro deste dia, talvez seja a única lembrança de sua presença em nossa cidade entre tantas e tantas lembranças que o carnaval paulistano perdeu.
Nossa maneira de resguardar a nossa cultura sambista, não permitiu relatar e guardar todos os materiais com o carinho merecido, mas a história está aí para ser resgatada e contada!
Fica para nós agora, imaginar como fora o encontro e o papo entre os nobres, mas com a minha alma de sambista, de alguma forma eu tenho a certeza que ao retornar a Capital Carioca ele teve a melhor impressão que a revolta vivida na época pela cidade se exauriu como na sua composição de o “mar serenou” ou que ele de alguma maneira veio até aqui e talvez tenha se inspirado a escrever “preciso me encontrar” , bem até aí quem sabe?
Vou viver com estas perguntas e quem sabe um dia eu encontre dentro de minhas pesquisas esta resposta.
Mas hoje dormirei com a certeza que…
“A chama não se apagou e nem se apagará”